Sabotage, artista morto há 20 anos, ainda ecoa como um norte do rap compromissado
O cantor e compositor paulistano permanece relevante pela força perene de obra em que denunciou toda a opressão sofrida pelo povo preto e pobre no cotidiano das periferias.
♪ ANÁLISE – Tanto se falou e ainda se fala cotidianamente a respeito de Mauro Mateus dos Santos (3 de abril de 1973 – 24 de janeiro de 2003), o Sabotage, que hoje – dia em que se completam exatos 20 anos da morte do rapper paulistano – parece um dia qualquer. Porque o rap compromissado de Sabotage ainda reverbera todo dia como um norte nas mentes dos manos que vieram depois, como um lembrete constante de que rapper não é viagem.
Na esfera terrena, a viagem do cantor, compositor e ator foi curta. Sabotage foi assassinado a menos de três meses de completar 30 anos. Deixou um álbum referencial, Rap é compromisso (2000), e teve o som atualizado pelos produtores Daniel Ganjaman, Rica Amabis e Tejo Damasceno no disco póstumo Sabotage (2016), formatado a partir de gravações da voz do artista em músicas então inéditas registradas entre 2001 e 2003.
Parece pouco, mas é muito pela força perene do que ficou nos discos. Sabotage foi voz sobressalente que se fez ouvir a partir das quebradas da periferia da cidade São Paulo (SP), mais precisamente da Favela do Canão, onde nasceu e se criou.
Munido do rap, o Maestro do Canão – codinome que batizou documentário sobre o artista filmado sob direção de Ivan 13F e lançado em 2025 – alvejou o racismo, a miséria e a injustiça social que o povo preto e pobre enfrenta na luta diária pela sobrevivência.
O rapper versou sobre o que sofreu na pele preta. Sabotage experimentou toda a sorte de dissabores na vida dura vida. Criado sem pai pela mãe, empregada doméstica, Mauro dos Santos se envolveu com o crime e foi parar na prisão sob a acusação de furto. Sobreviveu no inferno e nunca deixou que lhe aprisionassem a mente.
Com a liberdade de pensamento, ganhou voz ativa através do rap. Revelado no grupo RZO (Rapaziada da Zona Oeste), Sabotage usou o rap como arma para denunciar todo o sistema opressor que ceifam vidas negras como a dele pela violência, inclusive a policial.
Sabotage morreu, mas ainda vive pela obra que lhe serviu de testamento por denunciar tudo o que há de podre a assombrar o pobre no país da fome.
Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2023/01/24/sabotage-artista-morto-ha-20-anos-ainda-ecoa-como-um-norte-do-rap-compromissado.ghtml