Por que é tão importante construir pontes entre as gerações
Projetos intergeracionais vão de podcasts a empresa que aproxima jovens adeptos do veganismo de executivos do setor de alimentação
Marc Freedman é um apaixonado defensor do convívio entre gerações. Em 2018, escrevi sobre seu livro “Como viver para sempre” (“How to live forever”), que pregava: a fonte de juventude está em conviver com os mais jovens. Foi da teoria à prática ao criar a Encore, cuja proposta é justamente construir pontes entre pessoas de todas as idades. No dia 29 de junho, assisti à rodada 2022 de projetos com esse objetivo, chamada Gen2Gen. O evento on-line foi aberto com um magnífico exemplo do que pode ser feito: uma apresentação da Young Heroes Intergenerational Brass Band, de Nova Orleans, que reúne músicos entre 12 e 61 anos
Fiquei encantada com alguns dos projetos selecionados, todos voltados para a questão da intergeracionalidade, e começo pelo da professora Fernande Raine, PhD em História por Yale. UnTextbooked é um podcast cuja terceira temporada está prevista para outubro, no qual adolescentes entrevistam historiadores, tratando de temas que mobilizam a juventude mas que, com frequência, não têm espaço na grade curricular – como o ativismo negro no século XIX e até a produção do etanol brasileiro.
Grace Hampton, professora emérita de arte e estudos africanos na Penn State, contou como surgiu o Weaving Wisdom: “cresci na Maxwell Street, em Chicago, num caldeirão cultural com pessoas de diferentes nacionalidades. Ficava encantada com as roupas que usavam e as histórias que contavam”. Foi assim que sua proposta tomou forma, ao reunir grupos para resgatar sua identidade cultural através das vestes e dos tecidos utilizados pelos seus ancestrais.
Samantha Derrick tornou-se vegana na adolescência e decidiu que sua causa poderia ganhar escala global: a Plant Futures Initiative se propõe a deslanchar carreiras nessa área e fazer a ponte entre estudantes e executivos do setor de alimentação. Sua ideia foi acolhida pela University of California, Berkeley, que já realizou dois simpósios sobre a importância da transição para uma economia baseada em plantas, capaz de fazer frente a desafios como as mudanças climáticas e a escassez de alimentos no planeta.
Cristina Rodriguez começou a tocar violoncelo aos 10 anos e, aos 14, era voluntária num hospital. Hoje está à frente da Mind&Melody, que leva experiência musical para portadores de demência: “essa é uma linguagem universal, música é um medicamento potente”, diz. A parceria com a FAU Honors College, universidade onde estudou, teve início em 2014 e já realizou mais de 6 mil sessões musicais em instituições. “Todos precisamos de interação com os outros. Imagine o que é viver no isolamento, sem estabelecer conexões. Os idosos não se limitam a ouvir música, eles tocam os instrumentos, cantam e dançam. Quem mal abria os olhos acaba nos brindando com enormes sorrisos”, afirma, empolgada.